
No escuro da pluma, reluzia as gotas a medida que as luzes cruzavam as cortinas entreabertas.
A alegria do reencontro, fresca no rosto, acompanhou a estranheza de perceber que estava mudando a referência de casa.
A noção de que a correria dos abraços, giros e "como você está"s, fará parte desta new soul.
O endereço realmente já não se fixa tão ao sul do mapa.
O coração sim, não se fixa em local algum, e sim se espalha nômade, e se encontra fácil por muitos pontos em tantos caminhos.
O coração se espalha e gruda os pedacinhos, como em velcro, com cuidado contínuo para não deslocar.
Há nós em nós, que prendem, unem e ajudam as cordas de cada um ficarem mais longas.
E quanto mais nós há em nós, mais longe vamos, com a segurança garantida, no afeto que não desanima quando vê as pontas das cordas em locais opostos.
Pois essa corda sempre mostra que há nós em nós.
Sim, o tu é o que vale.
Um tu+eu ao cubo, que permite uma multiplicação indefinida, que passa de repente como um leopardo, ou lenta como se estivesse a derreter.
Se buscar definição, cansa, desiste, não gosta.
Fazer o que? Ah, rir, sentir. Olhar, abraçar, respirar, expirar. Deixar expirar a data do remédio por não precisar tomar.
Manter contato num telefone sem fio.
Contato, com tato, com certeza se afeta. Se respeita. Se reconhece no outro.
E pergunta por que, e não precisa resposta.
E nesse ritmo aumenta o tamanho da quadrilha, que segue no mesmo embalo, mesmo sem enteder igual a música.
Afinal, os sotaques se misturam, numa receita de bolo com sabor de amistad.
Dividir a bebida quente, aquece.
Lembrar, reviver, voltar, dividir, conhecer, buscar, sentir falta e saudade, dar carinho.
Todos esses verbos, no infinitivo, aquecem.

escrita dia 29/06/2009
fotos:
Bar Amstad, em Passo Fundo.
Chácara, em Curitiba.