25.5.10

No. 97 - Gosto de lendas

E as pedras vão rolar...
*Ignorando as explicações insossas dos historiadores, eu acredito nos tesouros escondidos sob as Ruínas de São Francisco, em Curitiba...*

Em terras centrais de uma capital, num bairro com nome de santo que fugiu do dinheiro, há túneis subterrâneos que escondem moedas espanholas.
Graças a Zulmiro, meu vizinho. Um pirata esperto, que depois de saquear a coroa da Espanha, acaba naufragando em mares que ainda não sabiam ser Paranaguá.
Não deu outra, saltou, nadou, não largou o saco de ouro e achou o esconderijo perfeito à dezenas de quilômetros do oceano. A Construção de uma Igreja, em meio à duas praças, cheio de jesuítas e índios cuidando do espaço.
Madrugadas profundas abaixo da terra, até garantir a segurança e sigilo que necessitava. Como um pirata habilidoso, também na arte da simpatia, conseguiu mãos voluntárias de escravos e bençãos de padres.
Sabia que seu sorriso multicores e uma moeda em sua mão esticada conquistavam belos bons dias na nascente Curitiba, lá do seu alto São Francisco...
Mesmo depois de escondê-los tão bem que nunca mais encontrou, nem nos túneis que desciam à Paranaguá, ou que desembocavam na futura Praça Zacarias, continuou nas ruas largas da cidade tomando seu Rum e provando os chás indígenas. Irresistivelmente, a cigana, dos olhos verde-mar e sotaque do ouro que roubou, amaciou as mãos calejadas de Zulmiro. O pirata tentou conquistá-la, mas como ela leu sua sorte, e não o encontrou em seu futuro, foi difícil enamorar-se. Mas a promessa do tesouro fez com que a espanhola, no mínimo, não o espantasse.
Se tiveram filhos, não sei. Se encontraram o tesouro, sei que não, ainda está sob as ruínas de São Francisco.
Protegidas pelas maldições piratas, jesuíticas e indígenas, uma bela rede social, não permitem a invasão dos outros.
Apesar de saber que Zulmiro anda por aí, perto da minha casa, não consegui ainda conversar com ele umas idéias novas de participaçao na escavação que tenho.
Enquanto não tomamos esse chá na praça Garibaldi, nem discutimos com as feministas no Belveder, fico na minha.
Pois, sem a proteção do pirata Zulmiro, aquela pedra pronta para cair em quem entra, não me fará bem.
... Tomo meu rum, um gole pro santo, um brinde pro Pirata!


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crônica-conto baseada nos dados pesquisados na CASA DA MEMÓRIA, na rua São Francisco - Largo da Ordem - Bairro São Francisco
Fotos by Gi:
Jornal de 1974 do acervo da Casa da Memória
Agente de desenvolvimento Ticiano Jalos conhecendo as histórias do bairro e do pirata Zulmiro.

No. 96 - Gosto de ler contos

Noites de verão

Ela gostava de ler, principalmente contos. Uma leitura mais ligeira que lhe permitia aproveitar as horas que passava no ônibus, ida e vinda do trabalho.
Levantou os olhos da leitura cismando.... Os contos de Marina Colassanti mexiam com seu erotismo. Seu casamento estava tão morno! Seria a timidez sua ou a sistemática do marido. O conto "Homem Frente e Verso" lhe deu a idea para sacudir a mesmice rotineira de seu relacionamento.
Não seria mulher de duas caras, mas a mulher oposto do que era. Imaginou-se vestida diferente, cabelo de cor vibrante, o batom forte, para acentuar a sensualidade.A saia mais curta valorizando suas pernas bem feitas.
Comprou um vestido vermelho, curto e decotado.
Noite de verão, janelas abertas, o companheiro no quarto estirado na cama, olhos na tv.
Pôs o vestido, olhou-se no espelho, rodopiou pelo quarto... olhou o marido..nenhum comentário...
Aprimoraria sua estratégia.
Pintou o cabelo de cobre avermelhado, quase ruivo. Adquiriu um sutiam sexy, uma calcinha minúscula.
Noite de verão, calor, janelas abertas, tv ligada, o marido na cama.
Vestiu a langerie, ajeitou o cabelo, sorriu para o espelho, para ela isso era uma ousadia!
- Notou algo diferenteem mim? perguntou.
Ele desviou momentaneamente os olhos da tv, gostou do que viu, mas não podia perder o comentário do jogo, respondeu:
Parece mais magra.
Desejava que ele a arrastasse para a cama,cobrisse de beijos e desejos extravagantes. Amarga decepção.
Na manhã seguinte, a mesma rotina. na saída do prédio escutou:
-- Gostei do que vi ontem a noite!
Olhou espantada, o rapaz estava sorrindo:
-- Janelas abertas em noite de verão são como palcos...
Chegou mais perto, passou a mão pelas suas costas e ousadamente descia acariciando seu corpo.
E assim foram caminhando, A conversa entre eles não consegui escutar...

CONTO DE Myriam Bley Piechnik, minha colega de oficina de contos da escritora Gloria Kirinus.

--- Gostei muito deste e de vários contos dela... poesias, textos, palavras maduras... ---- assim postei aqui... e, quem sabe... nos encontraremos em outras páginas...

1.5.10

No. 95 - Gosto de Teresa XII

- PARA SE LER EM UM MINUTO -

Teresa pára e pensa:
"Se o tempo tanto guia,
para onde ele me leva?"

Teresa ri e se imagina SESSENTONA
e se sente boa
SERÁ?

SE for que nem aquele que chega ali sorrindo
e sessenta
SE for que nem ele que chega correndo
e se senta


Senta pouco
Sente muito
Faz bastante

Teresa o conhece e quer tambem sentir assim com 6 décadas.

Sentir o pôr do sol
registrando em lentes
canon ou varilux.

Sentir o chão: o seu - Tijolos de vidro.
Trocar o chão: novo seu - Paredes de vidro.


Usar borracha só em tênis.
Olhar para trás sem ter o que apagar.

De lanches de hóstia
a jogos com lasanhas congeladas.
De excursões lotadas
a 2 vagas com milhagens.
De microscópio a amplificador,
De insetos a flores,
De bicicleta a mini-van,
De violão a violino,
De livro a DVD,
De cerveja a mamadeira,
De amor a amor.

Sessenta segundos, tanto significado!
Teresa se senta.
Sorri.


--- 02-05-2010 ---
escrito pro mim 14-12-1985, filha de Marcio Voss - 02-05-1950
imagens das lentes que ele escolheu usar...
se não deu tempo de ler em 60 segundos, vale a pena treinar maisou trocar o tênis.

errata. 01

o número anterior acho que era pra ser 94.

mas...

errei!