5.2.09

No. 42. Gosto de Teresa V


Teresa senta.
Escuras estampas em volta lhe fazem lembrar do tempo que ali dentro passou.
Lembrar também do hoje.
Do tchau que não quis dar,
do aniversário que esqueceu de lembrar,
da mochila que esqueceu de procurar, e alguém para ela escolheu.
Mas sabe que não é hora de lembrar.


Sabe que as estampas das paredes de cerâmica serão outras,
em breve.
Esquecer, seria do tempo, ou não?


Não.
O tempo Teresa sabe que ainda ali vai estar, querendo ou não que ele pare. Ou DESacelere.
Ele continuará no seu ritmo, não de valsa variada, e sim de marcha única.


E nada vai se esquecer.
Teresa sabe.
Sabe do que lembrar.
Teresa cuida. Ama. Abraça. Deixa...
Deixa o tempo.


E ele volta e lembra Teresa que já não há tempo.
Poucos dias, e muito a guardar.
Só que os potes e tecidos são fáceis de esquecer, deixar.

...
Teresa sabe o que guardar.



...
Sem nem saber o que a aguarda.






05/fev/09 escrito quase meia noite no caderno.
Digitado e editado devagar e com carinho até às 01:07, ouvindo músicas que foram soltas no seu desktop.
fotos da Aspirina, by Gisele Voss (eu), em dezembro

3.2.09

No. 41 - Gosto de sentar na grama

Como é ruim se sentir mal, sem ser dor física.
A dor psíquica... por isso chamam sofrimento psíquico, porque ele está ali para fazer sofrer.
A angústia, a tristeza, a vergonha, o nojo... Esses sentimentos, são ruins.
É ruim.
E sabe que é indignante não ter solução fácil, externamente? É sim necessário ser forte inside.
Ter uma base, uma força interna que te segura.
Assim, quando encontram remédios que aliviem esses sentimentos, é porque sozinho, não está mais conseguindo.
Pode ser incomodativo ver essa indústria medicamentosa oferecendo "soluções" para problemas psíquicos. Entre aspas, porque não são soluções, são remédios.
É daquela frase de não sei o que é melhor remediar... Os remédios são aqueles que sempre tem algo.
Então enquanto se precisa do remédio, o problema ainda está ali, mas aliviar aquela dor de sentir mal é algo muito bom.
Só que uma tristeza tem em si motivos para inverter o sentido dos lábios.
A vergonha tem um objeto que lhe faz sentir ali. Etc e tal.

Será que aí entra a Psicologia? Afinal, o que eu poderei fazer para alguém que sofre? Será que com mais 3 anos de classes, livros e estágios, encontrarei essa ferramenta?
Quando, no ensino médio, pensava em qual faculdade escolher, eu dizia: "Não quero ser médica, para lidar com problemas, nem advogada que também é com problemas. Não é isso que quero ver no trabalho."
E aí escolhi Psicologia. Será que me equivoquei, e entrei no mundo dos problemas mais que Medicina e Direito, que são cheios de compêndios de "soluções"?
Acho que não. Eu não optei por psico para ver os problemas, afinal, eu não queria isso né?
Eu vejo nela as pessoas. As crianças. Essa praça, o barulho do balanço, a cadeira de armar do velho, as meias de futebol entre o poste e o arbusto que fazem a goleira. Vejo psicologia na minha escrita, nesse caderno de sentimentos, do lado do chinelo na grama que o cachorro preto do frisbie branco deve provavelmente ter usado outro dia.
O vento aumentou e as folhas secas de plátanos me acertaram. Em alguns minutos vou levantar e minha bunda vai estar marcada pelas raízes em que sentei de saia fina, que era da tia de um amigo. E outro amigo virá para passear e conversar, e mai tarde as amigas comigo estarão e vamos dividir a conta, no fim, rindo do que lembramos.
E tudo isso me fará bem.
E é nisso que pode estar a Psicologia, a relação, as relações, os outros que nem a mim se relacionam.
E se hoje posso ter tido problemas, que minhas lágrimas me fazem rever, também terei meus desproblemas, meus calores.
E se tivesse escolhido matemática, daria fácil a conta, e o resultado seria positivo.

p.s. falar em positivo... faltam 9 dias.

30/01/09 17:33. na grama dos plátanos
foto by Marcio Voss, em viagem

2.2.09

No. 40 - Não gosto de Hospital, Burocracia, Médico...

(vou escrever sobre tudo essas coisas que não gosto, que envolvem a idéia hospitalar. Antes que meus textos sejam outros, com ares de araucárias, falando das gentes que amo e já penso(am) assim... de leve a pesado... de cor e quadrados)
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Que ambiente.
Como diz meu pai, as pessoas vão ao hospital porque sofrem. Ficam enquanto estão mal. O que inclui mau humor, pacientes impacientes, sujeiras e necessidades estranhas. E quem trabalha nesse ambiente multiplica as dores pela quantidade de leitos que cuida.
Como fazer para assim, ali, se sentir bem e leve?
Acho que todo hospital sabe disso e tem maternidade. Para se ter a companhia de sorrisos no elevador, segurando uma bolsa colorida cheia de fraldas.

Conheci, o ano passado, o local reservado para o óbito. Situado, nesse hospital na garagem. Umas paredes brancas erguidas no canto esquerdo, na entrada dos veículos.
Ali tem duas macas, caso mais do que um corpo necessite naquele dia. É um lugar frio e, na minha opinião, até desrespeitoso.

Sim, era quieto. Em meu momento de luto, agradeci estar no lugar quieto, só interrompida pelos motores a estacionar.
Mas, ao mesmo tempo, podia ser no mínimo, um pouco menos frio, menos geladeira de porta de ferro.
Não digo que devia ter santos e imagens, ou cruzes e cenas sacras (acho que uma cruz tinha), até porque, 7 dias depois, na missa de 7o dia (ainda não entendo o pq dela) também não senti confortável.
Não, na real senti confortável no lugar, eu gosto daquela capela. Ali muita coisa vivi, vi, e minha vó ali cantou. Naquele dia o local era bom, mas as palavras me desconfortaram.
Eu sei que ao ler isso, todos vão dizer: "claro, quem estaria confortável com a morte?"
Sim... mas deveríamos deixá-la mais real e natural, e não assim.

26 de janeiro 2009, de tarde - escrito no quarto 311, hospital Prontoclínica.
foto by Marcio Voss, em trabalho.