10.8.09

No. 61 - Não gosto de mentira

06 de julho 2009 12:25
Estava no ônibus há pouco, e até perdi a conexão no terminal, porque demorei a descer, enquanto conversava com uma garotinha de casaco amarelo florido.
E a conversa começou só depois que algo “interessante” aconteceu: senti uma cólica forte, e para aliviá-la tive que liberar uns gases. Sim, soltei um pum silencioso. E quase que instantaneamente ela fala para a mãe:
¬- To sentindo um cheiro de cocô!
E sua mãe:
- Eu também.
E eu, prontamente, com cara de nojo:
- Eu também.
E ela olhou para mim, naturalmente, como alguém perguntaria: “Qual o seu nome?”, ela perguntou:
- Você soltou um pum?
E eu, infelizmente, tive que mentir, segurando o nariz apertado, como ela estava fazendo. Ela apertou ainda mais o dela, e ajudou a mãe, segurando para ela também. Depois da mãe abrir mais a janela do ônibus cheio do meio dia de inverno, a menina pergunta:
- Passo u o cheiro? – com a voz anasalada de nariz fechado.
A mãe espera um pouco e diz que sim. Neste instante ela solta o nariz e dá aquele suspiro de alguém que ficou muito tempo sem respirar. Depois disso se seguiu alguns minutos de conversa, em que ela me olhou e disse:
- Eu te vi no tubo (um tipo de parada de ônibus de Curitiba), quando fui pegar o ônibus. – e depois- É que essa minha mãe aqui é muito maluquinha. Sabe que eu vou viajar para Bandeirantes? E se você quiser ir vai ter que pegar um ônibus.
Nisso, me levanto para seguir a fila de passageiros descendo, e digo:
- Ok, se eu for, vou de ônibus, mas não sei onde é.
E a menina de casaco amarelo florido, no auge dos seus 4 anos, diz prontamente:
- Aí você vai precisar fazer um mapa.
Dali então me despeço, desço no terminal, vejo meu ônibus que passa de meia em meia hora, fechando as portas e saindo. Até corri e bati na porta, gesticulei, corri, e ele se foi. Aí sentei aqui, escrevi essa história, e aceitei o castigo de chegar atrasada no estágio, por ter mentido na conversa. Não pelo pum...

E o mais gostoso desse momento - claro que não foi o cheiro – é que eu estava lendo o livro “El clown, um navegante de lãs emociones.” (JARA, Jesús). Porque a reação natural da menina de casaco amarelo florido, de perguntar se eu que soltei aquele cheiro ruim, e a reação da mãe, de sentir vergonha pela filha, mas rir um pouco contida, traduz um tanto das páginas em espanhol que estava lendo. Da relação do palhaço com o mundo, com os outros, com a ingenuidade, com a não observação de certas normas – ou de norma alguma... Ou então da verdade no mundo infantil, da sensibilidade, e da percepção aguçada do que se passa ao redor, nem que seja através do olfato.
Por isso, cada vez mais, gosto também de usar um casaco amarelo florido assim.

p.s. ok, na próxima provocarei a criança de outra forma...

(foto da aspi by Abelha)

7 comentários:

  1. Esses dias recebi um mail q dizia: n segure seus puns, eles sobem e qd s alojam no cerebro originam as idéias d merda. Entao tenho orgulho em ter amiga apitante, peidenta (definição do renatinho) fedida etc etc etc

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  2. Essa Aspirina e essa Gisele saum umas peidantes viu... Teresa peida tb?
    Adorei essa menina da história..alias as duas, a que peido e a que - inevitavelmente - cheirou!
    =*****

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  3. Ahahahah!!!Muuito bom!! To rindo até agora. Que graça (a menina, claro) eheheh

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  4. Que fofo!!! :D
    Não o cheirinho, eu imagino...

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. li isso num dia fatidigo e pensei...só a gi memso pra fazer rir hj...adoroo

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  7. Ola!
    escrevo para pedir uma ajuda. Estou procurando este livro do Jesus Jara e nao encontro. Há possibilidade de obter um copia do seu livro?
    Se sim, mande um email pra mim? oluomin@gmail.com
    Abraços!

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Comentar é ótimo.. pois tudo é uma surreal construção coletiva...